We’ve updated our Terms of Use to reflect our new entity name and address. You can review the changes here.
We’ve updated our Terms of Use. You can review the changes here.

Kimané Session: Leo Fazio

by Leo Fazio

/
1.
Atravessando aquela esquina em plena e pura distração Na contramão do outro caminho eu via tudo, menos chão Dei meia volta em meia-lua e vi a luz do que restou Dando rasteira em minhas costas e carinho em minha dor Então virei para o outro lado e vi a curva cerebral Sorri de noite, mas a noite não sorria, não faz mal Portanto andei portando o medo e meio que o medo ficou Ficou tragando o sentimento e maltratando quem eu sou Então eu perguntei: Quem quebrou meus sonhos? E o medo respondeu: Eu quebrei teus olhos E o sonho virou ilusão sincera E todo o medo virou alegria incerta E toda convulsão liberta Convicção daquela Conclusão que é certa Confusão que vai chegar Eu vomitei a minha tripa e o motorista não parou Atravessei por outra pista e a paranoia atropelou Atrapalhou a porra toda, parecia que emperrou A minha cara ficou presa na ferragem do motor E a boca foi cair na consolação Deixando o coração lá na aclimação Eu caminhei por toda estrada, labirinto cerebral E toda rua da cidade me levava pro final Mas o final era mais triste do que parecia ser Enquanto o meio do caminho me botava pra correr E eu corri por todo lado, eu corri até passar mal Num morro lá do Pery Alto eu só corri em abissal E quanto mais eu caminhei comia tudo pelo chão Comi meu medo, minha morte e minha auto-afirmação E todo sonho virou ilusão sincera E todo o medo virou alegria esperta E toda convulsão liberta Convicção daquela Conclusão que é certa Confusão que vai nos controlar Eu caminhei no nada De um começo em cima De um final que eu queria ver O que será que será Cerebral?
2.
O fim do caminho é toda viagem Passando por cima de peste e barragem Cruzando o silêncio, virando a miragem Seguindo no gesto é só continuar Pelos espetos no chão Pelos espectros na margem da intuição Sobre os aspectos da programação Onde o falso ressoa E a cabeça se perde atoa Onde todo silêncio ecoa Onde um anjo-cachorro checou a masmorra E em sua entrada dizia “Não Corra” Mas quem sabe as vezes correr não traz mais Que uma caminhada travada, pra trás É a língua no cancro É a fruta na feira Uma expectativa que as vezes não chega Uma tentativa de sorte na mesa Uma experiência contradiz a certeza Um expectorante pro peito vazio Um lago de seda sedado Um bugio Que grita a quilômetros para dizer: “Siga logo adiante para então perceber Que o fim do caminho não é pra se ver Mas segue a todo momento ao seu lado, em você” E quanto mais seguir ao final Chegando na sombra do samba fatal Siga seguindo a sentença a seguir E se perca no caos Pois as vezes é bom se perder Mas cuidado! Só não vá se esquecer de você… De você…
3.
Quem é que me garante que não passa de ilusão? Que os telefones-celulares sempre funcionarão? Se pá vai ser, se pá já foi, e deixa a vida pra depois Quem é que vai ouvir o som sujo da explosão E com a pele imunda e morta usar a droga da razão? Se pá na loucura eu me me curo enfim Da prece cantada do ódio Do amor sem taxa de código Que se pá já morreu E que não viveu, se fodeu. E quem for correr… leva choque, leva choque E hoje todo amanhã morrerá antes das três E quem se atrasar leva tiro na cara Paranauê para lavar a alma (tic-tac, tic-tac, tic-tac) E o trem pra Jaçanã sairá do fim do mundo outra vez Outra vez… Se pá na loucura eu me me curo enfim De cada cabeça de vento Cabelo mofado no tempo E qualquer notícia de um final Vai ser embalada no vácuo Da cruz enfiada no saco De cimento da cegueira De um telejornal E o céu sujo de cinza é o colapso da ilusão Coração de fio-de-cobre, pobre conexão E quem é que irá falar por nós? Se a verdade já não tem mais nem um pingo de dó.
4.
Porra - Live 03:48
Meu rapaz, que porra traz? Que mal tu faz sem ver a mais? Que porra faz á quem não sabe Quando é noite, quando é tarde, Quando chega o covarde? Porque a vida tudo leva A morte é fria, só na espera Dessa porra pra acabar Mas que porra vai restar? Sem ter a nada Na cidade que acautela com a tal de febre amarela Que não cansa de matar Em caso de corte nos lares Caminhe na tragédia e se mova aos pares Todos em seus lugares Tudo nas suas mãos Então prossiga meu irmão Pois porra nenhuma vai mudar Mas que porra eu vou contar em minha chegada Em porra de lugar nenhum? No Cemitério do Araçá Que é o meu lugar... Aperte o cinto da esperança Alimente a sua pança emparelhada com uma história de ninar Em outra vida, outro clique Encarando a tela fria Embalado na retina Emparalhando na Paulista Encalhado na piscina de um chão chique Encaralhado na farinha Em outra porra de dia a demorar Em volta da lua sangrenta Ninguém mais lamenta a chuva de urubu Então vai tomar no cu Mas cuidado, rapaz Dinheiro cagado fede demais A ponto de ser amado Por todo aquele vê asfaltado Seu cérebro podre, acabado Acabou-se o medo da grande revolta popular Da população enrabada Enrosco na cabeça de quem tem em si mesmo o Caos E também não entende mais nada Mas que porra engraçada A minha geração que se sente culpada Pela porra do lugar Que já existe a muito tempo Antes mesmo da estação da Luz E o viaduto do chá Mas mesmo assim nasça, cresça, ande e apareça Sua palavra vale um tiro, vê se acerta na cabeça Encontre a sua história lá parada na memória E veja glória que era sonhar e perceba Que a vida não é moleza Vai roubar tua mesa Vai manter sua pobreza Vai nutrir tua tristeza A não ser que caminhe com os olhos em pé Mas não mantenha sua fé se ela engole toda sua sanidade e gira em torno da maldade Bem lhe quer, mal lhe quer na colher Bem lhe quer, mal lhe quer na colher Mas que porra é essa rapaz Mas que porra é essa? Bem lhe quer, mal lhe quer, bem lhe quer, mal lhe quer…
5.
Hoje chove em Pirituba Não há mais nada a se dizer Não há nada que o vento mais pingue no chão E nem motivo pra ser Nem que o sangue suje o portão... Nem que o vidro de cada janela me quebre na cara para refletir Nem que tudo pare de existir.. E se o trem bater na minha porta Ainda há de continuar a chover Hoje chove em Pirituba E só da merda na TV Hoje morre em Pirituba E quando vive é pra fude Hoje corre em Pirituba E toda zica é pra morrer Hoje chove em Pirituba. Choveu ontem, chove hoje Se molhou não deu pra ver Morreu ontem, morreu hoje Se viveu, não vai viver Choveu ontem, chove hoje Se molhou, não deu pra ver Morreu ontem, morreu hoje Se viveu, não deu pra ver Pois é muito violento o progresso E o concreto só me faz querer gritar Na vila o castigo é sem dó E se nos pega só Pá! Pá! Pá! Hoje chove em Pirituba E só da merda na TV Hoje morre em Pirituba E quando vive é pra fude Hoje o corre é em Pirituba E toda zica é pra morrer Hoje chove em Pirituba E só da merda na TV!
6.
Tietê… Ai, como eu queria ir nadar no Tietê Mas que belo dia, mergulhar, sobreviver Parar na marginal, não ser fatal E nem enlouquecer Tietê… Se desesperar Com a chuva a chegar E o vento a soprar nossas coisas no rio Que segue Vivo e suave Sempre dançando aurora Como já foi outrora Se entregando à flora Que o segue ao Paraná Ah… Tietê… Tietê… Ai, como eu queria ir nadar no Tietê Mas que belo dia, mergulhar, sobreviver Parar na marginal, não ser fatal Admirar meu Tietê...

about

An intimate live session recorded at the Seloki Records studios.

credits

released December 1, 2023

Directed by Seloki Recs and Leo Fazio;
Produced by Yann Dardenne and Otto Dardenne;
Lighs by Martin Simonovich;
Photography by Gael Sonkin, Martin Simonovich and Leonardo Yugo;
Edited by Marina Mole.

Audio engineer: Yann Dardenne;
Mix and Master: Leo Fazio.

Recorded at October 2nd, 2021

license

all rights reserved

tags

about

Leo Fazio São Paulo, Brazil

Described by NPR Music as a musician that makes "brilliant experimental sounds, with a knack for pushing the envelope on eccentric and electrifying spins of traditional Brazilian music", Leo Fazio (São Paulo, 1992) is a non-binary artist who works across a broad spectrum of experimental music idioms. Their first record was described as a modern classic by the portuguese newspaper Jornal Público. ... more

contact / help

Contact Leo Fazio

Streaming and
Download help

Report this album or account

Leo Fazio recommends:

If you like Leo Fazio, you may also like: